quinta-feira, dezembro 07, 2006

Blogues Médicos e de Médicos....Sim ou Não???

Isto dos blogs médicos e de médicos está em alta. Essa é a ideia com que fico sempre que visito um blog de um colega, blog este que me encaminha facilmente para mais blogues de outros colegas médicos. Somos sem dúvida, membros de uma profissão que dá muito que falar, quer pelos doentes, quer pelos médicos. Todos os dias em qualquer hospital, centro de saúde, ou outra instituição onde se prestem cuidados de saúde, se passam histórias q poderiam ser facilmente relatadas por qualquer um de nós e que, mais facilmente ainda, captariam a atenção daquele q os lê.
Estamos numa época de liberdade...podemos opiniar sobre qualquer tema da sociedade sem termos medo de represálias ou de censuras. Podemos inventar historias, mudar nomes, relatar acontecimentos, etc, etc. Muitas historias q vou lendo em blogues, ou outras que por vezes tenho vontade de contar, são/seriam extremamente interessantes, cativadoras, emocionantes ao ponto de nos arrancarem uma gargalhada ou às vezes umas lágrimas..., isto inclusivamente se eu fizesse uma nota dizendo que eram invençao total, fruto de imaginação e fantasia
Quando iniciei este blogue até fui apontando num caderninho as historias mais engraçadas, tristes ou curiosas q me ocurreram durante o curso durante os meus estágios nas enfermarias e nos blocos operatórios, para depois as relatar aqui de forma mais ou menos floreada....MAS, no outro dia visitei o blogue do colega "Gasel" e vi um post q me fez pensar sobre tudo isto.
A internet é um meio acessivel a quase todas as pessoas (a doentes, a médicos e a médicos q são ou serão doentes), pelo q os blogues também o serão. Não é menos verdade, que a medicina hoje em dia está em todo o lado, e qualquer individuo pode ter acesso a informação médica (livros, net, revistas, televisão, rádio,etc). A minha questão, e aquilo q me tem andado a fazer pensar, é até q ponto nós, os médicos, deveremos ser participantes directos desse fornecimento universal e gratuito da informação, até q ponto isso poderá ser benéfico, mas sobretudo, até que ponto isso pode ser prejudicial para quem lê este blogues, leia-se doentes. Nós médicos, compreendemos facilmente algumas frases, algumas expressões, alguns desabafos dos colegas...mas e o doente? Terá ele, essa disponibilidade mental para se poder colocar no papel do médico, para assim poder compreende-lo melhor? não será já o doente um elemento fragilizado, o qual não deverá ser sujeito a nenhum tipo de interrogação ou dúvida sobre a disponibilidade/actitude do médico para com ele? será q um possivel futuro doente (e se-lo-emos todos) gostará de saber de antemão q a sua futura doença e/ou o seu comportamento poderá ser usado pelo médico q a atenderá (melhor ou pior) como base para escrever uma historia? poderá isso induzir medo ou ansiedades aos doentes? estaremos em falta legal e deontológica ao sigilo médico?
Lembro-me muito bem de há uns meses ter feito o juramento Hipocrático (versão clássica). Não o fiz na lingua de Camões, mas o dia era emotivo (era a cerimónia de Graduação da minha faculdade). Se já tinha chorado baba e ranho pela cerimónia, pelos discursos de despedida, pelos amigos q fiz, pelos 6 anos transcurridos e que ali pareciam ter sido 2 dias, ainda mais chorei quando nos levantámos todos e jurámos em conjunto....ora...com estas duvidas decidi ler o juramento outra vez....e há uma parte que diz o seguinte "...transmitir preceitos, instruções orais e todos outros ensinamentos aos meus filhos, aos filhos do meu Mestre e aos discípulos que se comprometerem e jurarem obedecer à Lei dos Médicos, e a nenhum outro..." e outra q diz "...Não relatarei o que no exercício do meu mister ou fora dele no convívio social eu veja ou ouça e que não deva ser divulgado, mas antes considerarei tais coisas como segredos dos mais sagrados."
Fica a dúvida, o pensamento, o possivel debater de ideias, enfim, alguma coisa.....

1 Comments:

Blogger Shara said...

Entendo perfeitamente a tua duvida, já que tambem me deparo com ela volta e meia. Até agora tenho-a resolvido da mesma forma que todos: mudo nomes, não revelo o nome do hospital, mudo alguns pormenores na historia etc... Tenho duvidas se será quebrar o sigilo médico, ás vezes parece-me que sim, mas não consigo dissociar-me. Isto é, não consigo ter duas faces, a Shara pessoa comum e a Shara médica, já que, desde que me conheço ser uma sempre implicou querer ser a outra. Por isso dificilmente consigo viver um dia sem que os doentes e os episodios q passo e vivo não me venham á cabeça e na maior parte das vezes, não mos apeteça contar. A maior parte das vezes guardo-os, pq há coisas que não devem MESMO ser contadas. Acho que todo este desabafar de epísódios médicos terá eventualmente a capacidade de mostrar a quem nos leia que, (ao contrário do que se proclama em quase todas as revistas, jornais cabeleireiros e esquinas), os médicos não são umas crituras abomináveis e insensiveis apenas interessados no dinheiro do paciente. São pessoas que se esforçam para ser o que são, que se empenham por uma causa, que admiram, acarinham e respeitam as pessoas que os procuram. Que são pessoas de carne e osso, que tambem sofrem com os problemas com que se deparam e para quem os doentes não são só mais um. Esses foram os argumentos que arranjei e os unicos que justificam falar nos meus doentes. Eles são uma parte de mim e sem essa parte tudo o que eu fizesse ficava incompleto, até um simples blog. No entanto, e como tu, não tenho a certeza se estou certa. Beijinhuz e bom estudo.

9:45 da tarde  

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